O CONTRAFORTE E A SUA IMPORTÂNCIA.

Por muito tempo já, venho implicando, sim, implicando com a má qualidade e mau preparo dos contrafortes, principalmente no calçado esportivo. Nalgum ponto no tempo e no espaço se perdeu a noção do que o contraforte representa para um bom calce e para o conforto do pé no ato de andar.

Na “bíblia” dos sapateiros alemães de Oswald Besching há uma descrição exata do que um bom contraforte deve representar: “O contraforte tem uma série de funções importantes dentro do calçado. Deve conferir ao pé uma postura firme e assegurar esta postura. Deve emoldurar o calcanhar todo, até o enfranque, com firmeza, como se fosse um espartilho, porém elástico, evitar a torção do pé e proporcionar segurança no ato de andar. O contraforte bem escolhido em material e contorno, junto com a alma, deve evitar que o calçado quebre no enfranque.”

E o J.H.Thornton, autor de outra “bíblia” semelhante para os sapateiros ingleses, ainda completa esta exposição com aviso que “deve ser observado na construção e no preparo do contraforte, o pé esquerdo e direito, o que principalmente no calçado feminino é absolutamente necessário. O contraforte deve acompanhar exatamente o contorno da palmilha e a altura deverá ser a maior possível permitida pelo desenho do calçado.”

Infelizmente, não é isso que vemos no calçado feito hoje em dia. As velhas máquinas de moldar os contrafortes foram aposentadas. Materiais, que outrora forneciam a dureza e permanência da moldagem, como couro e recouro, foram substituídos por materiais termoplásticos que além de tudo ainda são manipulados sem nenhum conhecimento técnico.

As máquinas conformadoras são operadas por operários que não sabem o que fazem e não esperam um esfriamento e conseqüentemente estabilização na forma desejada e, retiram em nome da rapidez do serviço, o contraforte ainda quente do molde, onde deveria congelar, perdendo assim, toda a função da conformação.

O resultado pode ser visto em qualquer vitrine: calçado, principalmente o tênis com a “boca” aberta, escancarada, comprometendo todo o visual e o mais importante, um calce seguro e confortável, onde o calçado não está saindo do pé, porque o contraforte o segura na área do calcanhar.

Discuti o assunto com fabricantes do material para contrafortes. Recebi uma quantidade de amostras, até boas, e algumas perfeitas, mas que de pouco adiantam, se não estão devidamente manipuladas. Suponhamos, que a máquina conformadora esteja bem operada, que o contraforte de boa qualidade esteja bem desenhado e colocado no lugar exato dentro do cabedal antes da montagem. Mas, o que adianta tudo isso, se a máquina tem um só ferramental que deve atender de 8 até 12 tamanhos?

Qualquer leigo entenderá, que o contraforte moldado nestas condições não servirá para outros tamanhos a não ser àquele para o qual foi moldado. É um assunto bastante sério. Infelizmente, é só um dos poucos pecados que se cometem contra uma boa técnica de construção do calçado. Logo agora, quando a qualidade do produto começa a ser levada a sério, tanto pelos clientes como pelos lojistas e de vez em quando até pelos próprios fabricantes.

O que está escrito acima poderá ser adaptado a todos os componentes do calçado. Na ânsia de baratear o produto, as técnicas que proporcionam qualidade e conforto são abandonadas sem maiores preocupações. As gerações mais jovens, por desconhecimento, acham que o calçado deve ser feito assim mesmo e a deterioração da tecnologia está aumentando.

Felizmente, estou encontrando empresários que se preocupam com este estado de coisas e procuram oferecer a qualidade a partir da escolha de materiais, porque já descobriram que o “barato sai caro”. O mesmo pode ser dito sobre a tecnologia aplicada na produção. É verdade que a qualidade tem o seu custo. Mas é o melhor investimento para o futuro difícil que temos pela frente.

Zdenek Pracuch